Fotografia de Paisagem – Fotometria, o primeiro passo

Especialista explica como medir a luz e a interpretar o histograma
são fundamentais para conseguir fotos de nível profissional

Por Gabrielle Winandy (Texto) & Príamo Melo (Texto e Fotos)

Entre os pontos que garantem que uma fotografia de paisagem seja de nível profissional, segundo o especialista Príamo Melo, estão saber medir a luz corretamente e interpretar o histograma da imagem. Dominar essas técnicas é um grande passo para sair do clichês e capturar imagens de impacto. Príamo lembra, no entanto, que tudo começa com uma decisão simples: saber o que fotografar. Segundo ele, o fotógrafo iniciantemuitas vezesnão sabe muito bem o que quer fazer, então se inscreve em cursos para todos os tipos de fotografia e compra qualquer equipamento que julga ser bom. “A especialização é fundamental”, opina o especialista.

A partir do momento que o fotógrafo decidiu o que quer registrar (nesse caso, paisagens), pode fazer os cursos certos, ler artigos especializados e, mais importante, adquirir o tipo de lente que melhor valoriza o trabalho, como as grandes angulares, por oferecerem um ângulo de visão aberto, que inclui céu e terra, e por possibilitar a captura de vários planos simultaneamente.

Um outro ponto importantíssimo é ter domínio dos aspectos técnicos, ou seja, o conhecimento sobre a melhor forma de trabalhar com a luz, como usar filtros, ler o histograma, controlar da nitidez de imagem, a profundidade de campo, o foco, entre outros. Nenhum conhecimento é pouco para registrar paisagens, que Príamo considera como sendo um dos estilos que mais demandam técnicas da fotografia.

Depois de um longo dia de pesquisa fotográfica na praia de Jericoacoara, Ceará, e seu entorno, na volta para a pousada cruzamos com esse pitoresco barco à vela quebrando a tranquilidade e a infinita gradação de tons de azul do anoitecer. Com o equipamento profissional já devidamente guardado na mochila fotográfica, saquei do bolso a câmera compacta e a montei rapidamente no tripé. Uma luz suave e quente das lâmpadas da cidade deram conta de revelar a forma e as cores do barco. Dada à baixa luminosidade do momento, abri todo o diafragma e usei o maior tempo de exposição possível dessa câmera, de forma a deixar o ISO em seu menor valor para resguardar a qualidade da imagem final. Dados técnicos: Canon S95, Canon 6-22,5mm @ 6mm (equivalente à distância focal 28mm no formato 35mm), ISO 80, f/2, 15s, medição matricial, captura em RAW, câmera apoiada em tripé.

Conhecer tecnicamente a luz é fundamental, o que envolve contraste, intensidade, temperatura de cor e a direção de incidência. “A luz lateral, por exemplo, que existe no começo e no fim do dia, é ótima e quase sempre dá certo”, explica Príamo, ressaltando que aluzdo meio-dia, por ser muito intensa (ou dura, no jargão fotográfico), raramente gera bons resultados em paisagens.

Embora a luz seja o aspecto mais importanteda fotografia (pois é o que a torna possível), é preciso cuidado ao usá-la diretamente como parte da imagem. Príamo afirma que um dos maiores erros do fotógrafo inicianteé achar que a beleza da luz é suficiente para uma boa imagem. “Muitos acham que a luz dourada é o ponto alto da foto. É preciso muita cautela com isso”, alerta o especialista.

Além disso, de nada adianta dominar a técnica e não ter noção de como fazer uma boa composição. Esse quesito, também importantíssimo, envolve uma parte subjetiva, em que o fotógrafo coloca sentimento e emoção na imagem que está registrando. A boa composição também conta com aspectos como harmonia dos elementos enquadrados e horizontes definidos – Príamo considera horizontes tortos um erro terrível.

Ao reunir conhecimento nesses principais pontos, você tem meio caminho andado para uma foto de paisagem de nível profissional. Nesta primeira aula, o especialista dará ênfase em fotometria e interpretação do histograma, que são importantes para o equilíbrio de luzes e sombras.

Fotometria

É comum a fotometria passar despercebida para boa parte dos usuários de câmeras digitais. O fotógrafo iniciante precisa ter a noção de que a fotometria é o processo que resulta na medição dos níveis de luz captados pelo sensor da câmera. Funciona assim: o fotômetro da câmera analisa a cena com base em padrões de sensibilidade, medindo-a por inteiro, uma parte pequena ou várias partes, e a partir disso reajusta (via modo automático ou via fotógrafo, em modo manual) a abertura da objetiva, a velocidade do obturador e a sensibilidade ISO. Esse conjunto de dados gera a exposição para que o resultado seja um brilho médio com meio-tom – isto é, exatamente entre o branco e o preto, evitando luzes muitos fortes ou sombras altamente acentuadas.

Um dia de sol de verão em Isla Mujeres, a caminho da pequena ilha de Cayo Largo, em Cuba. O barco de turismo nos deixou a cerca 30m da areia da praia, e com a água na cintura (às vezes um pouco acima da cintura), caminhei cuidadosamente com a câmera em cima da cabeça. Levei apenas o filtro polarizador e grande expectativa. A praia tinha a areia mais branca que eu já vi, e na arrebentação um achado: algumas estrelas do mar. Girei o polarizador até que o céu ganhasse uma saturação mais vibrante e os reflexos na água pudessem ser minimizados, a fim de poder mostrar o fundo de areia e conchas. Optei por uma composição vertical para dar mais espaço ao primeiro plano. A abertura f/11 foi escolhida para fornecer uma profundidade de campo suficiente para mostrar os detalhes mais ao fundo da bela estrela mar. Dados técnicos: Nikon D300, Nikkor 16-85mm @ 16mm, ISO 200, f/11, 1/100s, medição matricial, captura em RAW, filtro polarizador, câmera apoiada com as mãos.

Para fazer a medição exata, muitos profissionais recorrem ao uso do histograma (veja no manual da sua  câmera como visualizá-lo, mas na maioria basta clicar no botão “info” ou “disp”). Esse gráfico analisaa distribuição dos níveis de luminosidade de cada pixel do sensor.

Modos de medição

Uma dúvida comum dos iniciante em fotografia de paisagem é a escolha do modo de medição de luz, que está relacionado com a área da cena que será medida. Os modos existentes são os conhecidos avaliativo ou matricial, o ponderado central e o pontual (spot). O primeiro faz uma medição multi-segmentada, em uma área bastante ampla do quadro fotográfico, usada para o cálculo do volume de luz. A cena é dividida em múltiplos segmentos, cuja informação de luminosidade é homogeneamente processada pelo fotômetro.

Os outros dois trabalham com áreas menores. O ponderado central ou de peso central (centered weight) dá ênfase à medição nas regiões centrais, embora toda a área do quadro fotográfico seja utilizada na medição. Já a pontual restringe a leitura de luz a um círculo bem pequeno do quadro fotográfico (entre 1,5%a 2% na Canon e 2% a 4% na Nikon). O minúsculo círculo atua usualmente no centro do quadro fotográfico, mas há modelos de câmeras que permitem que ele seja deslocado para outras regiões de acordo com o ponto de foco ativo no quadro fotográfico.

O modo avaliativo (ou matricial) é o que se encaixa perfeitamente na fotometria com o uso do histograma, como no caso da fotografia de paisagem. Há duas razões principais para isso. A primeira é que, em paisagem,o fotógrafo deseja registrar a cena com a máxima riqueza de detalhes. Assim, todas as regiões da cena importam e faz mais sentido usar a medição multi-segmentada, a única a dar ênfase a todas as áreas.

A segunda é porque cabe ao histograma informar se a cena desejada, na plenitude da sua distribuição tonal, poderá ser capturada pelo sensor em uma única exposição. Caso essa distribuição “caiba” na capacidade de registro do sensor, então o assunto tem solução simples, ou seja, basta expor o sensor e deslocar o histograma para a direita para aumentar a quantidade relativa de luz em relação ao ruído digital, sempre presente em qualquer imagem (tomando o cuidado para evitar o aparecimento de estouros de luz).

Do contrário, se a distribuição de tons for tão ampla que supere aquela que pode ser capturada pelo sensor, então, o fotógrafo de paisagem tem de optar por uma das quatro alternativas disponíveis: 1) priorizar as sombras ou as luzes altas da cena, dado que, simultaneamente, ambas não poderão ser registradas adequadamente; 2) usar um filtro de densidade neutra graduado (ND graduado), se a topologia da cena permitir, para reter a exposição da parte mais clara e, assim, comprimir a amplitude da distribuição de tons para que o sensor consiga registrar a cena; 3) realizar múltiplas exposições com diferentes níveis de luminosidade e fundi-las digitalmente com a técnica do alto alcance dinâmico (HDR, High Dynamic Range, em inglês); 4) desistir da composição pré-visualizada.

Com a adoção da avaliação do histograma e o ajuste do modo de medição de avaliativo o matricial, desaparece a velha pergunta em fotografia de paisagem: “Onde você mede a luz?”. A resposta: em lugar nenhum. A cena como um todo deve ser interpretada e o histograma vai informar ao fotógrafo sobre a necessidade de remediar a exposição, seja por meio de filtros ou de técnicas de fusão digital.

Histograma

O sensor é formado por milhões de fotodiodos, que atuam como micro-coletores de luz que darão origem aos pixels da imagem. O histograma é o gráfico que vai consolidar a informação de luz proveniente de cada fotodiodo de uma forma clara e compacta. Isso é importante porque, às vezes, a imagem que aparece no monitor da câmera é diferente da original por questões de ajuste de luminosidade – e o mesmo acontece com telas de computadores e outros dispositivos. Com o histograma, você sabe exatamente como a foto foi registrada em arquivo.

Na análise de um histograma comum, o eixo horizontal é o mais importante, porque nele pode-se ler um nível de luminosidade em particular e, no eixo vertical, a quantidade relativa de pixels com essa luminosidade. O valor numérico preciso de pixels do sensor apresentando um determinado valor de luminosidade não é uma informaçãoimportante. Por isso, no eixo vertical, não há número algum. Entretanto, para o eixo horizontal, uma escala é importante e, dependendo da câmera, é apresentada. A luminosidade varia desde zero, à esquerda, que significa preto puro (ou seja, fotodiodos que não receberam luz alguma) e vai até o valor máximo, usualmente o valor 255, que significa branco puro (indicando que houve saturação de luz em alguns fotodiodos).

O histograma mais comum é o RGB, também conhecido como histograma de brilho. Ele apresenta uma espécie de soma da informação de luminosidade proveniente de cada canal de cor primária (vermelha/R, verde/G e azul/B). A característica marcante desse histograma é que, para um dado pixel, basta que um dos canais de cor apresente estouro de luz para que seja contabilizado e apresentado, mesmo que os outros canais de cor do mesmo pixel não estejam em ordem. Para ter certeza, você pode conferir o histograma individual de cada cor primária, disponível na maior parte das câmeras lançadas recentemente no mercado.

Curvas

A curva do histograma permite que o fotógrafo avalie se, em alguma região da cena, houve perda de detalhes – seja pelo fato de a cena apresentar sombras profundas demais (nesse caso, a curva pode tocar no lado esquerdo do gráfico) ou apresentar luminosidade excessivamente elevada (quando a curva esbarra no lado direito). Preto e branco puros significam que há regiões no sensor nas quais houve perda de detalhes na captura dos tons, pois é justamente a diferença de nível de luminosidade em determinada região que implica no registro da textura e contornos da cena fotografada.

O histograma de luminosidade também pode ser gerado em programas de edição de imagens, mas diferentemente do RGB, o gráfico mostra uma média da informação de luz armazenada em cada pixel. Assim, um estouro de branco pode apenas acontecer no caso de, simultaneamente, os três canais de cor saturarem no mesmo pixel. Para o caso da captura em JPEG, o valor máximo de luminosidade indicado no histograma é 255, o que significa que são registrados no máximo 256 tons de cinza desde o preto até o branco puros. Há mais níveis de tonalidades de cinza no caso do formato RAW. Mas, por convenção, o valor máximo de 255 também é usualmente usado.

Sub- e sobre-exposição na prática.

Soluções de ajuste

Se ajustes forem necessários, Príamo recomenda que o histograma fique mais para a direita, e para isso, pode-se usar o menor ISO possível, de 100 a 200, para evitar que a imagem tenha muito ruído. Também é bom ter a abertura (número f) elevada para criar uma maior profundidade de campo. Isso tudo vai exigir uma velocidade mais lenta, e nesse caso, o uso do tripé é essencial. Príamo reclama que muitos fotógrafos não gostam de usar tripé. Mas o acessório é fundamental em fotos de paisagem, pois ajuda a garantir a nitidez na imagem com o obturador operando em velocidade lenta e nas longas exposições.

Originalmente publicado em Fotografe: Técnica & Prática, edição 35, 2013: https://www.europanet.com.br/site/index.php?cat_id=1159&pag_id=24576

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