O Antes e o Depois na Fotografia de Paisagem

O especialista Príamo Melo fala sobre o fluxo de trabalho e pós-produção de imagens do segmento.

Por Gabrielle Winandy (Texto) e Príamo Melo (consultoria e fotos)

Existem dois momentos que exigem paciência e planejamento de quem fotografa paisagens: o antes e o depois da capturada imagem. No processo do antes estão envolvidos estudo, preparo e precisão. No depois, cuidado, atenção e dedicação. Nesta quarta e última aula de fotografia de paisagens, o especialista Príamo Melo ensina como administrar o fluxo de trabalho na pré e pós-produção.

Golden Gate, São Francisco/EUA, fotografado em condições de luz bastante distintas. Na foto principal, o equilíbrio sutil entre a luz remanescente do dia que desaparece com as luzes artificiais cria o clima desejado para essa cena. Dados técnicos: Nikon D800, Nikkor 24-70mm @ 24mm, ISO 100, f/16, 101s, medição matricial, captura em RAW, câmera apoiada em tripé.

Antes de pensar em fotometria, lentes e filtros, como discutido nas aulas anteriores, é necessário planejar alguns detalhes. Príamo recomenda que, depois de feita a escolha do local, você faça uma visita prévia para avaliar os melhores caminhos para chegar ao destino, as condições climáticas e como lidar com as intempéries – se for um lugar que envolve o mar, é essencial checar os níveis da maré para o horário que foram programadas as fotos, o grau de segurança pessoal e técnica do local com a finalidade de antecipar possíveis contratempos que possam surgir. No dia marcado, chegue uma hora antes, no mínimo, para ter certeza de que escolheu a melhor posição e configurações de câmera. Geralmente Príamo faz testes de composição para não ser pego de surpresa na hora do clique com um ISO errado, por exemplo, e perder a luz do momento. Ao checar os ajustes da câmera, veja se a forma de arquivamento está programada para salvar em RAW ou RAW+JPEG. Isso facilita o trabalho de edição posteriormente. Outra dica é programar o equipamento para guardar simultaneamente as fotos em cartão SD e Compact Flash. Algumas câmeras suportamos dois tipos de cartão. Assim, se um cartão apresentar algum tipo de problema, ainda haverá o reserva.

Montanha Half Dome, Parque Nacional de Yosemite/EUA, fotografada em condições de luz bastante distintas. Na foto principal, os tons quentes e suaves sobre o Half Dome, após o pôr-do-sol, potencializam sua beleza que é enfatizada pelos reflexos no Rio Merced . Dados técnicos: Nikon D800, Nikkor 24-70mm @ 38mm, ISO 100, f/9, 30s, medição matricial, captura em RAW, filtro ND graduado Lee, câmera apoiada em tripé.

PÓS-PRODUÇÃO

Organizar arquivos e tratá-los de manda extrema paciência do fotógrafo. É um processo longo e demorado – e que precisa ser feito com atenção. Na etapa de tratamento das melhores fotos, Príamo recomenda que seja usado um programa de edição fácil e intuitivo, como o Lightroom, da Adobe. Há também o Photoshop, para quem quer fazer ajustes mais elaborados – embora Príamo use um como complemento do outro. Ele diz que, para quem quer fazer um tratamento mais simples, só o Lightroom ou outro programa mais simplificado que trabalhe como formato RAW basta. No momento de abrir o arquivo RAW no programa de edição, escolha a opção de processamento em 16 bits. Isso facilitará o processo pelo fato de se trabalhar com um maior número de informações de cores. A menos que a intenção seja criar um cenário fictício, os aspectos mais básicos a serem alterados em uma foto de paisagem são: equilíbrio de branco, ajustes de brilho, contraste, nitidez, aberrações de cores, limpeza de imperfeições e correção de problemas relacionados a ruídos.

Emissário Submarino em Rio das Ostras/RJ. Dados técnicos: Nikon D800, Nikkor 24-70mm @ 29mm, ISO 400, f/14, 243s, medição matricial, captura em RAW, filtro ND Big Stopper Lee (10 pontos de bloqueio de luz), câmera apoiada em tripé. O tratamento do arquivo RAW consistiu em ajuste do balanço de branco e do nivelamento do horizonte no Adobe Camera RAW seguido de ajustes localizados de contraste no Photoshop (píer e resto da imagem receberam tratamentos diferenciados).

Mas atenção: o último ponto a ser tratado deve ser a nitidez, porque ela vai variar conforme o tamanho necessário para o uso que o fotógrafo quer fazer da imagem. Se a intenção for colocá-la nas redes sociais, por exemplo, o ajuste da nitidez não precisa ser alto. Mas se for para impressão em fine arté necessário ser melhorado. Há caso sem que parte da foto pode precisar de tratamento e outra não. O céu pode estar muito escuro, mas o chão estar na cor ideal. Príamo lembra que o Lightroom não permite ajustes localizados, interferindo na imagem como um todo. Nesse caso, o Photoshop é uma boa saída. Mas, independentemente de qual mudança seja feita, ele ressalta que é importante fazer ajustes sutis, apenas para destacar o que está bom, já que mudanças muito grandes dão uma aparência artificial ao resultado final. Depois que a foto já foi tratada, é hora de exportar. Por essência, os arquivos RAW não podem ser modificados. As alterações feitas sem programas de edição são salvas como RAW xmp, e é este arquivo que será exportado como JPEG – o melhor formato para qualquer objetivo. O JPEG é compatível com qualquer programa ou sistema. No caso da impressão, porém, principalmente se a intenção é fazer uma de proporções grandes, o mais recomendável é o formato TIFF, que garante melhor qualidade de cor es e fidelidade ao arquivo original RAW. As melhores impressoras, não opinião de Príamo, são as que usam pigmentos minerais (ou jatos de tinta) em papéis livres de ácidos, como o papel algodão. Além da maior durabilidade, não amarelam como tempo. Para impressões fine art, o tamanho mínimo recomendado é 30x40cm.

BACK-UP

Tendo a foto impressa ou não, é importante guardar uma cópia digital – para o especialista, o ideal é ter no mínimo quatro cópias digitais. Uma no computador e três em HDs externos. O primeiro fica sempre em casa, o segundo no trabalho e o terceiro serve para levar as fotos de casa para o trabalho. Ele atualiza os HDs uma vez por semana, mas isso fica a critério de cada pessoa. Há também a opção de guardar as fotos “na nuvem”, ou seja, em sites e programas que guardam uma cópia on-line, como o Dropbox. Para fotógrafos profissionais “a nuvem” é inviável: são muitos gigas e terabytes de arquivos, e a mensalidade para comportar tanto material pode ficar cara – além de problemas como lentidão do sistema de transferência do computador para o site. Mas, para fotógrafos entusiastas que estão começando e trabalham com muitos arquivos mais leves, ter uma cópia na nuvem é uma segurança a mais. O DVD é o único que é totalmente não recomendável porque o plástico degrada com o tempo e os arquivos podem ficar irrecuperáveis – a pior coisa que pode ocorrer depois de você ter se esforçado para acertar fotometria, escolher filtros e lentes corretos e tratar as imagens feitas dentro do segmento que Príamo Melo considera uma arte.

Texto originalmente publicado emem Fotografe: Técnica & Prática, edição 37, 2014: https://www.europanet.com.br/site/index.php?cat_id=1159&pag_id=24734

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