Escolha a Lente Certa para Fotografia de Paisagem

Escolha a Lente Certa para Fotografia de Paisagem

O especialista Príamo Melo fala sobre o uso de objetivas e a importância
da profundidade de campo na segunda aula sobre o tema. Confira.

Por Gabrielle Winandy (Texto) & Príamo Melo (Texto e Fotos)

A lente preferida por aquele quem fotografa paisagem é a grande angular por causa da possibilidade que ela oferece de capturar vários planos da cenasimultaneamente. A faixa grande angular é aquela formada pelas objetivas com distâncias focais entre 14 mm e 35 mm, tomando-se como referência o formato de filme 35mm, ou sensores full-frame. Segundo o especialista Príamo Melo, esse tipo de lente gera ascomposições maisdinâmicas, que podem abranger informações de planos muito próximos a planos mais afastadosda câmera. Essa característica chega a deixar muitos fotógrafos confusos quanto ao que priorizar ou deixar de fora no enquadramento da cena. Portanto, é preciso ser muitoseletivo na hora de fazer o clique.

Na primeira aula sobre fotografia de paisagem (Edição 35), foi mostrada a importância de fazer uma correta medição de luz e ensinado com o avaliar o histograma da imagem. Nesta segunda aula, Príamo Melo mostra como a escolha de uma objetiva vai influenciar a profundidade de campo, aspecto técnico que deve ser dominado por qualquer fotógrafo que eleja a paisagem como tema de seu trabalho.

A vastidão do verde-mar do Caribe é hipnotizante. Aqui estamos no Acuario, em San Andrés, Colômbia, onde encontrei essas estruturas reminiscentes de um píer antigo, que serviram como um primeiro plano diferente, criando até mesmo um ritmo em diagonal na fotografia. O céu azul, cheio de nuvens, completou muito bem a composição da imagem. (Dados técnicos: Nikon D300 – sensor APS-C, lente Nikkor 16-85mm em 34mm (51mm na equivalência com o formato 35mm), f/16, 71s, ISO 200, filtro ND Lee Big Stopper, captura em RAW, câmera apoiada em tripé).

Há um mito envolvendo o uso da lente grande angular: é dito, em conversas misteriosas de bar e em conselhos de profissionais inexperientes,que essa objetiva  altera a perspectiva das fotos. Príamo esclarece que tudo não passa de um mal entendido. Como a lente permite incluir imagens do primeiro plano em foco, é comum que o fotógrafo instintivamente se aproxime demais do objeto mais próximo, distorcendo a noção de perspectiva. A estratégia de enfatizar um elemento do primeiro plano usando uma grande angular é conhecida como abordagem perto-longe, ou near-far approach, em inglês.

Seja qual for o modo como você use a grande angular, é importante lembrar que, se quiser deixar tudo nítido (ou em foco, como se diz popularmente), é preciso entender o significado daprofundidade de campo.

O espaço da nitidez

A região de nitidez aceitável em uma fotografia se estende à frente e atrás do plano focalizado. Essa região é chamada de profundidade de campo, sendo medida nas unidades de comprimento usuais, como metros ou pés. Embora a distância focal da lentee distância ao assunto focalizado tambéminfluenciem bastante o valor da profundidade de campo, na prática, a abertura do diafragma é a variável mais solicitada porque não apenas desempenha umefeito muitodestacado no resultado final como também não interfere na composição da imagem (pelo menos em termos da disposição dos elementos no quadro fotográfico). Quanto menor a abertura (maior número f), maior será a profundidade de campo.

Anoitecer na Praia de Pipa em Tibau do Sul, Rio Grande do Norte. Era minha segunda tarde nessa praia e a ideia era procurar destacar as formações rochosas com seus desenhos incríveis esculpidos pelas marés e ondas. Uma abordagem grande-angular valorizou o primeiro plano mas ainda permitindo espaço para o espetáculo das cores do céu com nuvens. (Dados técnicos: Nikon D300 – sensor APS-C, lente Sigma 10-20mm em 10mm (15mm na equivalência com o formato 35mm), f/22, 25s, ISO 200, filtro ND graduado Lee, captura em RAW, câmera apoiada em tripé).

Outra variável que também desempenha um papelimportante é o tamanho do sensor da câmera digital. Para uma mesma distância focal, imagens formadas em sensores pequenos têm um ângulo de visão mais fechado que aquelas formadas emsensores maiores. O parâmetro específico associado com o sensor que é levado em conta no cálculo da profundidade de campo é chamado círculo de confusão, cujo tamanho é usado para obter informações sobre profundidades de campo – na Tabela 1 (abaixo), há valores de círculos para tamanhos de sensores mais conhecidos. Sensores menores requerem círculos de confusão menores porque as imagens formadas por eles deverão ser ampliadas mais vezes a fim de serem exibidas.

Ilustração do conceito de profundidade de campo e a influência da abertura do diafragma.

Tabela 1: Valores de círculos de confusão típicos para alguns sensores de câmeras digitais.

Para o cálculo da profundidade de campo adequada, é necessário observara distância focal utilizada (na lente),estimar a distância de focalização ao assunto e escolher uma abertura do diafragma (número f). O círculo de confusão é aquele referente ao sensor da câmera utilizada. A equação é complexa, mas há vários meios de saber os resultados. Um deles é por meio de tabelas, como aquela apresentada abaixo (Tabela 2), ou com aplicativos específicos para smartphones, como SimpleDOF (gratuito) e DOFMaster (US$ 1,99) – os dois são exclusivos do sistema iOS (App Store). Para o sistema Android, uma sugestão é o DOF Calculator (gratuito).

A bela Praia de Pipa, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, oferece inúmeras oportunidades fotográficas. Suas pedras têm formas exuberantes, torneadas ao longo de séculos pela ação do mar e das marés, oferecendo um primeiro plano muito interessante para o retrato da paisagem, especialmente num pôr do sol com um céu dramático, como mostrado nessa fotografia. (Dados técnicos: Nikon D300 – sensor APS-C, lente Sigma 10-20mm em 10mm (15mm na equivalência com o formato 35mm), f/22, 0,8s, ISO 200, captura em RAW, câmera apoiada em tripé).

Tabela 2. Valores de profundidade de campo para várias aberturas (por limitação de espaço, apenas alguns valores são mostrados) e distâncias ao objeto fotografado para uma distância focal de 18mm e um valor de círculo de confusão igual a 0,019mm (sensor APS-C Canon).

Distância hiperfocal

A profundidade de campo, no entanto, nem sempre engloba tudo que o fotógrafo desejacaptarcom nitidez. Muitos se questionam se, dada uma distância focal estabelecida pela composição da imagem,é possível usar a melhor combinação existente de distância de focalização e número f para gerar uma fotografia na qual todos os planos que o fotógrafo desejou que fossem registrados completamente nítidos, assim o sejam. Esse resultado é alcançável por meio da distância hiperfocal (H). Quando a focalização da imagemé feita na distância hiperfocal, a profundidade de campo se estende desde o plano mais próximo (H/2) até o infinito. A leis complexas da física podem mostrar que, para a combinação de distância focal, abertura do diafragma e câmera (sensor) utilizada, a focalização nessa distância é aquela que resulta na maior profundidade de campo possível, sendo esse um objeto de desejo dos fotógrafos de paisagem, especialmente quando estão usando a lente grande angular.

Dessa forma, em vez de colocar o ponto de foco no primeiro plano ou no plano de fundo (infinito), o fotógrafo pode escolher focalizar na distância hiperfocal (confira o box com exemplo explicativo). Como ela é medida em centímetros ou metros, é preciso fazer um cálculo que envolve o modelo da câmera (que entra no cálculo por meio do círculo de confusão), a abertura do diafragma (que será, agora, tão pequena quanto necessária, mas talvez não exatamente a menor possível)e a distância focal – veja a Tabela 3,que já tem medidas para as distâncias hiperfocais mais comuns. Assim que a distância hiperfocal for determinada, o fotógrafo pode usar uma fita métrica, por exemplo, e procurar um objeto que esteja na posição certa para focalizar e, logo depois, clicar.

Tabela 3. Valores de distâncias hiperfocais para CoC=0,019mm.

Normal e tele

As fotos de paisagem não são apenas feitas com grande angulares.Lentes na faixa normal (nas vizinhanças de 50mm), meia-teleobjetivas(de 70 mm a 135 mm) e teleobjetivas mais longas(de 140 mm a 300 mm) também podem serusadas, dependendo da intenção do fotógrafo. Profundidade de campo elevada, mais uma vez, é uma escolha usual do fotógrafo de paisagem, mesmo com lentes mais longas que as grande angulares, como as lentes na faixa normal, que fazem imagens consideradas comoretratosda paisagem, contendo menos informações devido ao ângulo de visão mais estreito.

Essa é o Salto de 80m no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Goiás. Havia muitas composições possíveis naquela locação, e eu já havia explorado o lugar com a grande angular. Mas o detalhe da separação clara do musgo, água e pedra, nessa interpretação da cena com um ângulo de visão mais fechado, enfatizou esses elementos e enalteceu o seu valor na composição da imagem. (Dados técnicos: Nikon D800 – sensor full-frame, lente Nikkor 24-70mm em 70mm, f/16, 13s, ISO 100, filtro ND Lee, captura em RAW, câmera apoiada em tripé, corte panorâmico realizado na edição da imagem).

As meia-teleobjetivas e teleobjetivas mais longas já requerem, segundo Príamo, decisões bem maisdrásticas de reducionismo no enquadramentoda cena. Elas são usadas quando o fotógrafo está longe do assunto e querchamar a atenção para detalhes da paisagem.

Resumidamente, qualquer lente pode ser usada para fotografar e interpretar a paisagem, embora a preferência de quem atua no segmento seja a grande angular. O importante é que a imagem tenha o máximo de nitidez que, além de depender bastante da profundidade de campo usada, como discutimos acima, também depende de estabilidade da câmera e da escolha adequada dos parâmetros de exposição feitos pelo fotógrafo.Na próxima aula, serão discutidos os acessórios adequados para a fotografia de paisagem, como tripés e filtros, por exemplo.

Texto originalmente publicado emem Fotografe: Técnica & Prática, edição 36: https://www.europanet.com.br/site/index.php?cat_id=1159&pag_id=24618

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